segunda-feira, março 30, 2009

Impressões


Pessoas chegadas a mim foram, recentemente, à cidade de Buenos Aires (Argentina) e é engraçado ver como as opiniões variam de acordo com as impressões de cada um.

Estive lá em 2005 - pré-crise e Cristina Kirchner – e simplesmente amei a cidade. Adorei ver os protestos silenciosos em frente à Casa Rosada; as bugigangas e o clima da feira de antiguidades de San Telmo; a cachorrada brincando feliz em frente ao cemitério, na Recoleta; os gatos se escondendo aos montes dentro do cemitério; o tango lindo do Señor Tango; o churro do Café Tortoni. E as risadas que dei com minha grande amiga e companheira de viagem, claro.

Mas os tempos mudaram e, pelos relatos que ouvi, a cidade também. Meus amigos reclamaram de sujeira, grosseria dos nativos, qualidade dos serviços... Que pena. Espero que sejam apenas impressões passageiras.

sexta-feira, março 27, 2009

Defendendo minha classe

Hoje não vai ter nenhuma historinha minha. Hoje vou publicar um texto sério. Faz tempo que as atitudes do Gilmar Mendes me enchem o saco. Mas desta vez ele extrapolou os limites do bom senso. E apelou, como é de praxe.

Patético.

O texto abaixo foi publicado no site da CartaCapital, no dia 23 de março. E vale ser reproduzido aqui. Pelo menos eu acho.

Gilmar, o censor
Leandro Fortes
Jornalista

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa. 

Nesta carta, contudo, falo somente por mim. 

Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto. 

Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera. 

Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido. 

Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos? 

Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas. 

Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender. 



quarta-feira, março 18, 2009

A cozinha


Não sei fazer quase nada na cozinha. Amo comer, mas cozinhar não é muito comigo. Não passo fome, mas não tenho muita variedade de pratos no meu estoque.

No entanto, a cozinha é especial para mim. Não por sua finalidade principal, mas porque é um lugar danado de bom pra conversar. Se, ao lado da pia, houver um balcão, então, fica melhor ainda.

Já tive grandes conversas com amigas ou familiares na cozinha. No apartamento onde morei por 20 anos com minha família tinha um cantinho no balcão que era meu predileto. Não sei o motivo, mas o ambiente é acolhedor e, bem ou mal, inspira bate-papos interessantes.

Meu padrasto e eu, por exemplo, já tivemos várias conversas legais na cozinha. Parece ser o único lugar da casa onde conseguimos nos encontrar. Na correria do dia-a-dia, é bom saber que esse lugar existe.

quarta-feira, março 11, 2009

O estresse e o convívio social

É verdade que estou tendo um dia de cão. É verdade que estou com TPM. E é mais verdade que tento, há algum tempo, não descontar minhas irritações/frustrações/contragostos em ninguém que não tenha nada a ver com meus problemas.

Enquanto o dia não acaba, vejo que o estresse já está tomando conta de muita gente ao meu redor. E olha que o ano mal começou! E graças aos outros estressados vi coisas bem engraçadas hoje. Seguem os diálogos.

No corredor:
“- Opa, tudo bem?
- Tudo bem.
- E a família, como vai?
- Me separei da minha mulher. Há nove anos.
- ...”

No elevador lotado:
“ – Vamos, vai caber nós três.
(elevador apita com o sobrepeso)
- Vamos sair e voltar só dois, pra ver quem é mais pesado.
(pessoas que já estavam dentro começam a se olhar)
(elevador apita com o sobrepeso)
-É, não tem jeito, somos todos pesados. Hahaha. Pode subir.
(A hora da revolta)
- Vai, babaca, aqui não é balança!
- Tá achando que todo mundo aqui ta brincando?
- É muita falta do que fazer!”.
E demais impropérios.

Pelo menos a gente se diverte.

segunda-feira, março 02, 2009

Cara de pau

Já estava na faculdade há algum tempo. Mantinha um bom relacionamento com quase todos. Naquele dia específico, conversava com uma velha amiga de colégio, que era minha veterana.

Como em quase todas as manhãs, fui à sala dela para batermos papo antes de a aula começar – os professores nunca chegavam no horário. Conversávamos animadamente. Ela no corredor, eu em cima da calçadinha que cercava a grama.

Abestadamente, eu conversava e me equilibrava em cima da tal calçadinha. Sério, era uma calçaDINHA. Devia ter uns 2 cm de altura. Na verdade, era mais uma “moldura” da grama do que outra coisa. E eu lá, brincando inocentemente como um pêndulo.

Não me perguntem como, porque até hoje eu não sei, mas eu caí de bunda na grama. Caí em câmera lenta, como se a gravidade me puxasse. Minha amiga não resistiu às gargalhadas, nem dois colegas dela que, imediatamente, se viraram para a parede para que eu não os visse rindo de mim. Ma lógico que eu vi, e o mico foi inevitável.

Como minha cara de pau não tem limites, me pus a gemer e a colocar a mão no tornozelo, como se o tivesse torcido. Em segundos, as risadas da minha amiga se transformaram em preocupação. “Quer que eu pegue gelo na cantina?”, ela me perguntou. Sussurando, confessei: “não foi nada. Estou fingindo que me machuquei para passar menos vergonha”.

Ela me ajudou a levantar e eu fui mancando, como se estivesse com muita dor, até o corredor onde ficava minha sala. Assim que fiz a curva, corri e me sentei imediatamente ao encontrar minha carteira. Depois disso, passei um bom tempo longe da sala da minha amiga. E da bendita calçadinha. Ui...